quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O Estado Não É Deus, Mas o Brasileiro Pensa Que É


Penso diferente: o Brasil não é uma nação que preza pela liberdade, seja ela coletiva ou individual. E também tenho bons motivos para acreditar que não estamos lá muito preocupados com a manutenção da democracia. Para dizer a verdade, já nem sei se ela existe de fato por aqui. Sim, porque a cada dia que se passa o brasileiro parece mais disposto a desistir dela. Aliás, essa é uma característica marcante do brasileiro, pois bastam algumas palavras rebuscadas para que ele deixe de acreditar em tudo aquilo que sempre acreditou para se entregar irracionalmente ao “novo”.

Somos assim não é de hoje. Quando os jesuítas chegaram por aqui, há pouco mais de 500 anos, um dia depois do desembarque os nativos já estavam convertidos ao cristianismo, sem nem saber por quê. De lá para cá, quase nada mudou, apenas trocamos a submissão imposta pelos velhos jesuítas pela de personalidades um pouco mais bem vestidas.

Você já parou para pensar como o governo está conduzindo a sua vida, como está vivendo a sua vida em seu lugar? O Estado está sequestrando-a para projetos próprios e pessoais, e nós estamos de pleno acordo, mesmo não recebendo nada em troca!

A cada lei, medida provisória, decreto ou portaria publicada, vamos gradativamente entregando parte de nossa vida e abdicando dos nossos sonhos para uma meia dúzia que viva e sonhe em nosso lugar. Esta sensação de liberdade ainda remanescente em nosso País está com os dias contados, pois falta pouca coisa em que o estado possa pensar em intervir, e fazendo assim, trocar o que você pensava em fazer pelo que ELE pensa em fazer.

Que crime cometeu, por exemplo, alguém que decidiu não escolher quem irá lhe roubar? Estou falando, claro, das eleições. Quem decide agir assim fica proibido de tirar passaporte, prestar concurso público e até mesmo de obter um empréstimo. E o que dizer dos programas televisivos que lhe doutrinam a economizar água e eletricidade e a selecionar o lixo? Estes programas tratam a água como se ela fosse petróleo, um recurso não renovável, o que é falso, já que depois de usada ela obrigatoriamente retorna à natureza, como qualquer criança da quinta série bem sabe. Quanto à coleta de lixo, já pagamos altos impostos para que empresas contratadas pelos municípios façam o serviço (geralmente de péssima qualidade). Mas o governo está mais preocupado em nos fazer trabalhar de graça para ele.

É preciso, primeiro, saber tratar a água, a energia elétrica e a produção de lixo como bens de consumo e que, portanto, têm um preço e obedecem às leis da oferta e da procura. Desta forma, a escassez de água, energia elétrica, etc., implica elevação de seu preço. Em decorrência disso, a economia destes bens se torna algo mais racional, não antiquado e duvidoso como quer o governo, que, inclusive, já lançou campanha incentivando a população a fazer xixi enquanto toma banho, a fim de economizar a água da descarga!

Cuidado! Esta doutrinação de hoje será leis e decretos amanhã. E o pior é que nunca vi ninguém questionar a veracidade dessas informações. O brasileiro teme, ao mesmo tempo, morrer de sede e ver todas as suas cidades litorâneas serem submergidas pelas águas dos oceanos, devido ao efeito estufa. Afinal, estamos condenados à falta de água ou ao excesso dela? E, falando em efeito estufa, como pode o governo estar tão entusiasmado com a descoberta do pré-sal? Ele está dando pulos de alegria por encontrar uma quantidade infinita de matéria-prima do combustível mais poluidor do planeta. Que eu saiba, o petróleo é o “inventor” do efeito estufa. O governo é perspicaz e contraditório: ele comemora o pré-sal, reduz o IPI para veículos automotores e diz que devemos deixar o carro na garagem e ir trabalhar de bicicleta!

Será que ninguém se incomoda com esse excesso de contradição, aliado à disseminação constante de novas e severas leis de âmbito nacional, que só tem aumentado o controle do Estado sobre a população, sem lhe trazer benefícios reais? Não sou contra leis, tampouco um defensor do surreal e incoerente anarquismo. O que me incomoda é o modo como o brasileiro tem acatado conselhos sem lógica e as mais diversas decisões legislativas sem o mínimo de senso crítico. Leis são feitas por homens e, portanto, são passíveis de erros. Mas querem enfiar em nossa cabeça que são todas criações divinas.

A lei antifumo, idealizada pelo governador de São Paulo, José Serra, e que proíbe o consumo de tabaco e seus derivados em todos os locais fechados do Estado, públicos ou privados, é um bom exemplo disso. Apesar da rigidez imposta, mais de 80% dos fumantes se mostraram favoráveis à restrição, sem ponderação prévia. Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraná e Piauí gostaram tanto da medida que a adotarão em breve. Há indícios de que a lei alcançará âmbito nacional, mesmo atropelando a Constituição, que determina a criação de fumódromos em repartições públicas.

Enfim, leis como a antifumo, a lei seca, os toques de recolher e outras mais ousadas e menos necessárias (a exemplo da regulamentação do tamanho do colarinho do chope paulista e tantas outras) são uma maneira eficaz, rápida e barata de o Estado “encurtar as rédias do povo”, pois suprir o déficite intelectual e de conscientização e responsabilidade do brasileiro são tarefas que despendem muito mais dedicação, boa vontade e, logicamente, investimentos. Mas o Estado sabe: contar historinhas e parábolas é muito mais fácil e sai bem mais barato.

Fábio Rabello para a Revista Alto Estilo
Professor e redator
fabiorabello76@hotmail.com