sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Eu também sou uma Mulher Possível


Amei, amei e amei. Não fui eu quem escrevi, mas adoraria tê-lo feito. Concordo com cada linha e ja criei uma "arte" pra ser a abertura do meu micro e estar na minha agenda, todos os dias...

MULHERES POSSÍVEIS
Por Martha Medeiros



Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes. Sou a Miss Imperfeita, muito prazer. Uma imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado três vezes por semana, decido o cardápio das refeições, levo os filhos no colégio e busco, almoço com eles, estudo com eles, telefono para minha mãe todas as noites, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e-mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos, participo de eventos e reuniões ligados à minha profissão e ainda faço escova toda semana - e as unhas!
E, entre uma coisa e outra, leio livros. Portanto, sou ocupada, mas não uma workaholic. Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres.
Primeiro: a dizer NÃO.
Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO. Culpa por nada, aliás. Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.

Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros. Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho. Você não é Nossa Senhora. Você é, humildemente, uma mulher. E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante.

Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável. É ter tempo. Tempo para fazer nada. Tempo para fazer tudo. Tempo para dançar sozinha na sala. Tempo para bisbilhotar uma loja de discos. Tempo para sumir dois dias com seu amor. Três dias. Cinco dias! Tempo para uma massagem. Tempo para ver a novela. Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza. Tempo para fazer um trabalho voluntário. Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto. Tempo para conhecer outras pessoas. Voltar a estudar. Para engravidar. Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado. Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.
Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal. "Existirmos, a que será que se destina?" Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra. A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem. Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si.

Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo! Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente. Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir. Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela. Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C. Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores. E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante.

domingo, 20 de setembro de 2009

Capa da Alto Estilo de setembro/outubro 2009


Linda, linda e linda.


A revista está linda, a modelo da capa (minha prima) é linda e a capa ficou lindíssima.


O que você achou? Me conta.




Muito mais que mau humor

Depoimento de Marina W, escritora e bipolar, para minha matéria sobre bipolaridade escrita para a revista Alto Estilo de setembro/outubro 2009.

“Descobri que sou bipolar há muitos anos. Quando soube, usava-se o termo psicose maníaco-depressiva e foi usando o nome original que o psiquiatra me deu a notícia. Parênteses para dizer que o termo foi trocado nos anos 80, pois a psiquiatria descobriu que nem todas as pessoas que têm o transtorno são psicóticas, ou seja, sujeitas a delírios ou alucinações. E também porque é um nome muito pesado. Assim, foi a minha reação: juntei as três palavras, uma delas que remetia a filme de Hitchcock, outra ao maníaco do parque. Bom, as três palavras tinham conotações terríveis. Fiquei tão petrificada que nem chorei. Já era casada e tinha filhos pequenos.

Me senti uma impostora na sociedade. Não sabia nada sobre o transtorno (não se diz doença), meu médico dizia que era como ter diabete. Não era. Ninguém sussurra para outro: "Olha, aquela ali tem diabete." Ir ao psiquiatra foi uma grande humilhação pra mim, só fui mesmo porque não conseguia falar nada na análise: chorava tanto que meus olhos pareciam duas poças de sangue. O sentimento era de incapacidade absoluta. Eu não entendia nada. Achava que todas as pessoas tinham nascido com um roteiro nas mãos, menos eu. Meu transtorno era do tipo 70% depressão, eram breves os momentos de folga.

E tinha muita vergonha, o que não é bom. Não se deve ter vergonha de uma falha química, um problema de sinapses. Eu só chorava e mais nada. Aos vinte e um anos eu tinha tido uma crise de euforia. É como uma droga permitida por lei: uma delícia. Só mais de uma década depois caí no fundo do poço. É bom dizer que se trata de química e, sem fazer apologia aos remédios, só outra química é capaz de colocar as coisas em ordem. Então, sinto muito dizer que só orações, e coisas do gênero, não fazem a dor passar.

Por incrível que pareça, a mania pode ser mais destrutiva do que a depressão: a pessoa fica sem limites algum em relações as drogas, ao sexo, dinheiro, tudo. Os estragos são os piores possíveis. Tive sorte de ser hipomaníaca. Só diversão.
Bom, dando um pulo no tempo, senão vou acabar escrevendo outro livro. Fui tratada de maneira errada pelos dois psiquiatras que tive antes do meu atual, especialista na doença: o remédio certo para um bipolar é o regulador de humor. Remédio para depressão unipolar faz com que as crises se tornem mais profundas e mais constantes. Fiquei curada. Entre aspas, já que não se fica curado, mas estabilizado. Sinto falta da euforia, mas sei que existe o outro lado da moeda: trata-se de uma doença cíclica. Espero nunca mais voltar pra debaixo do cobertor e ficar aos prantos, com a sensação de não pertencer a este mundo. O mundo está indo de mal a pior. Por isso mesmo precisamos estar atentos e fortes: cuide-se da maneira correta, e seja feliz. É como ter diabete.”


Marina W. é Maria Adriana Rezende, que mantém há 8 anos um dos blogs mais populares da internet (http://marinaw.com.br). Jornalista, trabalhou como redatora da Rede Globo. Também é autora dos livros O Caderno de Cinema de Marina W (Nau Editora) e O Diário de Um Bipolar (Nova Fronteira).