quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Díficeis Escolhas

Por que teimamos em crescer? Por que insistimos em adquirir bens e responsabilidades que na maioria das vezes só servem pra acumular problemas e tristezas na nossa história? Por que eu lutei tanto com meu pai pra deixar de ser a menina dele e me tornar uma mulher de ninguém? Por que chega uma hora em que temos a necessidade física de termos nossa própria casa, conta em banco, carro, marido, filhos, diploma e um monte de trabalho pra fazer?

Tantas questões assim me fazem sentir saudade de um tempo em que nada tirava meu sono. Sabe a expressão “eu era feliz e não sabia”? Exatamente, não sabia porque tinha tantas outras preocupações que me faziam acreditar que eu era a garota mais problemática do mundo. Ahhh, se eu soubesse... Eram coisas tão simples de se resolver.

Como uma roupa nova que todo mundo tinha, mas meu pai insistia em dizer que eu não poderia usar nunca porque “filha dele não sairia vestida só com a parte de cima da roupa”. O que adiantou? Hoje, apesar de já ter passado dos 30 anos, tenho pernas apresentáveis e um guarda-roupa repleto de minissaias. Fiquei feliz com isso? Não, perdeu a importância no momento em que meu pai deixou de implicar com o comprimento dos meus modelos.

Ficava arrasada porque aquele que eu acreditava ser o amor da minha vida ficava horas conversando com uma menina mais magra na academia. Sentia-me feia e inadequada dentro do meu corpo de adolescente. Ahhh, se eu tivesse o poder de prever que aquela menina “perfeita” também era insegura com sua imagem? Se eu pudesse sonhar, do alto das minhas neuras, que ela também ficava horas na frente do espelho se sentindo magrela e sem graça.

Talvez eu tivesse me arriscado um pouco e conversado mais com ele, percebido que ele era só um menino querendo se enquadrar, ser igual a todo mundo (nessa idade, quem não quer?). Teria, já naquela época, mostrado a ele que eu era uma menina especial e não só anos depois quando nossas vidas haviam tomado rumos opostos, nos fazendo ficar com um gostinho de história mal resolvida na boca depois de um beijo de despedida. “Por que você nunca me disse que realmente gostava de mim?” Porque eu era uma adolescente boba.

E o medo de não ser aceita pela turma? De ficar marcada como a diferente? Quantas coisas eu deixei de fazer com medo de parecer “a Carrie”? Quantas opiniões guardei pra mim? Quantas vezes deixei de falar pra minha família “eu te amo”, com medo que eles me achassem uma boba sentimental ou que eu estava desistindo da minha rebeldia sem causa? E o pior: como sofri por cada vez que deixei de ser eu mesma? Que besteira, um dia você cresce e descobre que todo mundo é diferente (graças a Deus!), e que é justamente aí que está a graça em ter amigos e uma família: descobrir diferenças que enriquecem, te fazem sentir menos esquisita e mais amada.

Mas nem tudo era só neuras! Senão não teria tantos motivos pra sentir saudades dessa fase. Sinto falta do meu jeito carinhoso com meus amigos, da disponibilidade que tinha pra ser simplesmente amiga e confidente de pessoas que passavam pelas mesmas crises que eu. Sabe quando nada mais importa (tarefa, paqueras, festas, academia, colégio) quando aquela sua amiga te liga com voz chorona dizendo que seus pais estão se separando ou o seu namorado pediu um tempo? Nada mais tinha importância, eu parava tudo e ia dar a ela me ombro cheio de apoio e conforto. E hoje, o que eu faço? Minha melhor amiga passa por uma crise monumental e eu não tenho coragem de ligar e dizer que penso muito nela e rezo todo dia pra que Deus a conforte, já que essa amiga aqui trabalha demais e não encontra tempo para as coisas importantes.

Sinto falta do convívio diário com minha família. Sinto falta de nossas conversas em volta da mesa. Deles me esperando chegar do colégio azul de fome e mal humorada pra saberem o que tinha acontecido de divertido no meu dia. Da gente infernizando minha irmã, deixando ela ainda mais pimentinha do que já era. Sinto saudade de sair pra fazer compras com minha mãe, quando ela ficava toda orgulhosa quando alguém nos confundia com duas irmãs.

Queria de volta as férias que tínhamos em família, onde tudo era companheirismo e descobertas. Sinto falta da figura forte e provedora do meu pai, que transmitia a sensação de que nada ruim poderia acontecer comigo ou com minha família. Mas coisas tristes acontecem com todo mundo, e eu descobri do jeito mais difícil que ninguém pode me proteger disso.

Eu cresci, e comigo meus problemas e, também, alegrias. Hoje, se eu não pagar minhas contas, ninguém pagará por mim. Se eu der um passo errado, terei que arcar sozinha com as conseqüências dele. Tenho muito mais poder, até pra magoar e machucar mais as pessoas que eu amo tanto. E sei que algumas coisas que faço, ao contrário de quando era uma menina, têm um tom definitivo.

Hoje, está em minhas mãos ser definitivamente feliz ou infeliz. E quer saber? Sinto-me tão pronta pra decidir isso quanto uma menininha que não consegue escolher o que quer ganhar de Natal. Por que eu fui crescer, hein? Por que ninguém me avisou que um dia eu não teria pra onde correr quando tudo desse errado?

5 comentários:

Andy disse...

Puta vida, lindo texto, amei muito, de coração, tive friozinho na barriga, lindo demais. (E olha que nunca tive vontade de usar mini-saia).

Garota, vc escreve muito, muito bem, amo seus textos, logo logo vc reune todos e faz o proximo "Diario de Bridget jones".

Beijos, mais uma vez parabéns.

Guilherme disse...

Adorei o texto. Você continua escrevendo muito bem.
Beijão

Pensando disse...

Puxa moça, vou copiar este texto e mostrar prá minha filha, casadinha à 1 ano, morando na casinha dela, mas sempre reclamando, e pro meu filho, agora com 18, que vive falando em morar sozinho. Eu sempre disse à eles....prá que a pressa em crescer. É tão bom ser criança, depois aborrecente, depois jovem, prá finalmente chegar na tão falada fase adulta, com um monte de responsabilidades que nos deixam tontas e longes dos que gostam da gente. Muito bom seu texto desabafo, que deveria ser colado em um banner e colocado nas escolas de 2º grau Brasil afora. rsrs.
Sabe aquele música que diz: "Você precisa de alguém, que te de segurança, senão você dança?
Pois é...
Agora... “filha dele não sairia vestida só com a parte de cima da roupa”. Essa eu ri até não poder mais. Todo pai também é ciumento, sabia? Mas moça, esquenta não. Eu fiz 30 anos de casado com a mulher que você conheceu, e ainda temos tanta coisa prá fazer, tanta decisão prá tomar. Isso não para nunca. Apenas aprendemos o que é importante, prá não desperdiçar forças. Mas uma coisa que aprendemos foi que dizer "te amo" prás pessoas não é difícil, e elas ADORAM. Sendo assim, começe por aí.
Beijos moça

Unknown disse...

Você conseguiu colocar no texto tudo o que já passamos, sentimos, sofremos um dia e achamos que sendo "gente grande" mudariamos....
Seu texto está maravilhoso e emocionante, escrito de forma bela e sincera...
Você continua ótima....

bjos e te adoro

Raul disse...

um dos textos mais fofos que já li. uma gracinha, até essa insegurança que vc transmitiu, medos e poderes são interessantes.
isso te faz simplesmente se juntar a um grupo chamado GENTE.
amo vc sempre...