quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O MUNDO ESPERA TUDO DA NOITE


Eu adoro bar, boteco, barzinho, música ao vivo, cerveja e bate papo com amigos. Tem mais variações do mesmo tema: paquera, happy hour, chopp gelado, cuba, cerveja Original ou Serra Malte, porção de amendoim, batata-frita. Não, eu não sou uma bêbada, viciada ou boêmia. Apenas acho que sair de casa, simplesmente pra ir ao seu barzinho preferido com amigos, beber um pouco e dar risada é uma das melhores coisas da vida. Muita coisa boa acontece nessas noites. Não sei se por estarmos todos ali só pra conversar e rir despretensiosamente, pelo excesso de álcool, ou pelo ambiente em si, uma noite num bar pode ser mágica.

Muita coisa interessante na minha vida já aconteceu ou começou em um bar. Descobri grandes amigos, percebi que velhos colegas de faculdade, sérios e responsáveis, se tornavam hilários, engraçados e interessantes depois de algumas cervejas. Como também já notei que amigas, companheiras de várias horas, não sabem se comportar na mesa de um bar – ficam chatas, maçantes, isso quando não ficam olhando para o relógio toda hora, ou ameaçando pular no pescoço do cara da mesa ao lado, como se ele pudesse lhe salvar do tédio.

É isso, há parceiros pra tudo nessa vida. E pra minha mesa só convido pessoas que sabem ouvir uma boa música, discutir um filme inteligente, rir de si próprio, beber sem dar vexame, trocar idéias sem se alterar, se divertir sem ser escandaloso. Também não gosto de compartilhar meu copo e minha noite com pessoas que não sabem dividir a atenção, causos, conta e, ainda, reclamam dos sagrados 10% do amigo garçom.

Também não gosto de gente que vai ao boteco pra caçar, arrumar pretê ou só paquerar. Isso me cansa, soa como sacrilégio. Tem coisas melhores pra se fazer ali: como rir de histórias antigas, colocar a vida em dia com os amigos, ouvir mpb e até olhar pro gatinho da mesa ao lado que insiste em cantar "toda cheia de charme" olhando em seus olhos. Tudo bem, eu confesso, também gosto de paquerar. Mas só olhar e me sentir desejada já me deixam feliz. Tanto é verdade, que nunca namorei ninguém que tivesse conhecido em um bar e muito menos deixei meus amigos na mesa pra curtir uns beijos com um estranho. Tudo tem seu tempo e seu lugar.

A noite ferve e pulsa cultura. A noite tem figuras interessantes e próprias, que você nunca conheceria em uma pizzaria ou numa boate. É por esses ilustres desconhecidos que a vida noturna fica mais interessante. Gostaria de destacar duas dessas figuras (minha cidade tem muitas, cada bar tem o seu). No entanto, falo de pessoas que nunca estiveram aqui, mas tornaram a vida em bares muito mais rica. A primeira é meu avô, um espanhol legítimo e boêmio, que com sua poesia e música encantou uma cidade. Ele foi embora cedo, mas deixou saudades e até hoje seus amigos fazem serenatas regadas a muita cuba pra ele no cemitério em que ele finalmente se rendeu ao sono e dormiu.

A outra figura foi um poeta, um andarilho (dizem que tinha família e dinheiro, mas abandonou tudo, sem ninguém saber o porquê) que pintava os muros de uma cidade cinza com poesia viva e vibrante. O nome dele era Gentileza, ou foi assim que ficou famoso. Marisa Monte se rendeu e fez uma canção pra ele, que me emociona cada vez que ouço. E se um dia, eu estiver em uma mesa de um bar, com alguns bons amigos (ou meu amor), tomando uma em homenagem a noite e tocar essa música, saberei que em algum lugar essas figuras dizem amém pra magia que só vivemos em um bar.


Making of: tomando uma Brahma, ouvindo Gentileza da Marisa Monte. "O mundo é uma escola, a vida é um círculo, amor palavra que liberta já dizia o Profeta."


Arcos da Lapa,berço da famosa boemia carioca, bairro que revela também um dos mais ricos conjuntos arquitetônicos da cidade. Sem dúvida meu atual objeto de desejo. Quem sabe um passeio para comemorar meu aniversário em março?

3 comentários:

Anônimo disse...

Eu sou um "barfly", o bar pra mim é como uma "segunda casa", tão importante (ou as vezes mais) que o meu trabalho.
Não me considero um bêbado e escolho muito bem com quem divide a mesa comigo.
Uma das coisas que me dá mais prazer é sair cansado, cansado pra caramba e sentar no boteco e tomar aquela gelada.
Eu só frequento botecos mesmo. Barzinhos me dão tédio, por causa dos exemplos que você citou.

Beijão

Cheers

Anônimo disse...

PERFEITA A DESCRIÇÃO QUE VOCÊ FEZ, DA FORMA QUE ENXERGA UM BOTECO. UMA SAÍDA DESCONTRÍDA PARA FALAR DE UMA SÉRIE SOBRE O NADA (PLAGEANDO SEINFELD - SERIADO DA SONY). A DESCONTRAÇÃO NESSE AMBIENTE É ÚNICA E MUITAS VEZES INDESCRITÍVEIS, INSUPERÁVEIS, "A MELHOR DE TODAS"...
GOSTO DO SEU JEITO DE SER. GOSTO DE VC.
BJS E VIVA A BOTECADA!!!

P.S.: VOCÊ VAI SE DIVERTIR MUITO NA LAPA. TERÁ MUITA HISTÓRIA PAR CONTAR.

Andy disse...

Oiiii

Finalmente arrumei tempo pra ler o blog todo. Adorei tudo!! Bom desing, boa diagramação, clean e o melhor de tudo, seus textos que são insuperáveis.

E eu to com saudades de sentar no boteco contigo, vamos ver se marcamos em...

Mil beijos, parabéns pelo blog, pela revista e pela grife.

Alias, eu tenho uma encomenta, quero uma camiseta com a frase: "Em minha defesa eu digo que não me lembro de nada."

Beijos mil.